segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O QUE É PARADIGMA?

Inês Lacerda Araújo
Filosofia de todo dia

O termo “paradigma” se tornou um desses muito usados e mal compreendidos.
Há um emprego genérico para significar mudança no modo de ver ou entender algo, quase sempre com uma conotação de transgredir uma situação e adotar outra digamos, mais apropriada ou mesmo revolucionária. Inclusive por detrás desses usos há certa inclinação a considerar a mudança de paradigma como algo necessário até mesmo benéfico.

Nada contra essa concepção. Mas propriamente dito, o conceito é muito mais específico. Refiro-me a Thomas Kuhn e sua obra “A Estrutura da Revoluções Científicas” publicada no longínquo ano de 1962, fruto de monografia quando estudante de Física em Harvard.

O primeiro mito que Kuhn derruba é o de que as ciências naturais (Física e Química) retratam a realidade mesma dos fatos, que suas teorias são comprovadas e que por isso sua verdade é inquestionável.

Se assim fosse, a ciência não progrediria, as atuais teorias seriam definitivas. Mas como foi possível que antes outras teorias fossem consideradas como comprovadas e mais tarde questionadas?

Então não seriam teorias científicas e sim mitos?

Para solucionar esses impasses, T. Kuhn considera que as ciências naturais não acumulam verdades, elas fornecem modelos, paradigmas aceitos e praticados por uma comunidade de cientistas. Os paradigmas funcionam regularmente por fornecerem diretrizes metodológicas que conduzem a contento as experimentações e com as quais se chega a resultados. Praticar a ciência é propor questões, solucionar problemas, usar os meios apropriados (laboratórios, pesquisas, artigos científicos, conjunto de leis e teorias) para chegar a resultados. Esse corpo de estudos e de práticas, forma o paradigma e quando ele é bem sucedido, a ciência progride rapidamente, pois o paradigma enseja coletar ainda mais fatos por meio das experiências, inclusive inventar instrumentos, aparelhos, e permite precisar cálculos.

Ora, quanto mais aprofundadas essas pesquisas maior a probabilidade de encontrar “furos”, o que pode levar a dúvidas, e ou o paradigma aceito e praticado soluciona o problema, ou ele se torna mais difícil e pode levar a rompimento com as regras que norteavam o paradigma aceito.

Kuhn chama a esse problemas de anomalias, pois fogem às exigências teóricas do paradigma que vinha sendo praticado.

As mudanças de paradigma são as revoluções científicas. Assim, por exemplo, a teoria da relatividade revolucionou a Física e a anterior concepção de Newton sofreu abalos.

Como se vê, os paradigmas podem mudar, o que não significa que devam mudar. E quando mudam, muda a imagem de mundo, muda todo um quadro teórico e prático de referências.

Então não posso confiar na atual teoria porque ela poderá mudar?
Claro que não, se a pesquisa dá resultados confiáveis, ela vale. Mas não é simplesmente verdadeira, definitiva ou absoluta.

Conclusão: se você considera que pode apoiar suas ideias e crenças em teorias científicas, saiba que é próprio da ciência mudar de modelo. Já ideias, crenças, fundamentos religiosos, éticos ou filosóficos não são regidos por paradigmas. Não busque respostas para o sentido da existência do homem ou do cosmo na ciência.

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