quinta-feira, 22 de outubro de 2015

EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA

Luísa Karlberg
Linguagem e Cultura


Pesquisa realizada pela Economist Intelligence Unit, um dos sistemas de consultoria mais respeitados do mundo, coloca o Brasil em situação humilhante: penúltimo lugar numa lista de 40 países. A Finlândia e a Coréia do Sul aparecem nos primeiros lugares. O Brasil e a Indonésia em últimos lugares.

Como se isso fosse pouco, o último relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), sobre o índice de desenvolvimento da Educação, feito em 128 países, o Brasil aparece na 88ª posição. Países menos desenvolvidos apresentam uma posição melhor, como Honduras (87ª), Equador (81ª), Bolívia (79ª). Ainda, o Brasil está aquém de nossos vizinhos e parceiros comerciais como Argentina (38ª), Uruguai (39ª) e Chile (51ª). Esses dados demonstram que as políticas pedagógicas que norteiam a educação no Brasil são equivocadas.

Percebe-se, nos últimos anos, um ensino fortemente influenciado pela reestruturação produtiva, pelas inovações tecnológicas, pela nova organização do trabalho, pelo modelo de globalização dos mercados, a exigir novos perfis profissionais. Criou-se, assim, uma educação voltada ao mercado de trabalho, entendida pela lógica do capital, visando contribuir para o projeto político pedagógico da burguesia. A classe trabalhadora foi abandonada.

Educação, no Brasil, é tratada como mercadoria. Tanto isso é verdadeiro que professores brasileiros entram e saem das greves de mãos e bolsos vazios. Nada conseguem dos governantes. Esquecem-se os políticos (ou lembram-se, o que é mais grave) que a educação é a única forma de criar indivíduos pensantes e autônomos, pois ela desenvolve a capacidade de reflexão e julgamento da realidade. Ou seja, a educação desenvolve a capacidade de informação e entendimento para uma análise e avaliação da sociedade em que vivemos.

Ademais, a educação prepara os indivíduos para a não aceitação, a manifestação, o afrontamento e a revolta; ensina-os a romper com as maneiras de ver, sentir e compreender as coisas. Por isso as escolas devem ser sempre consideradas um espaço de exercício da liberdade e da cidadania, pois ali se adquire atitudes, valores, orientações e espírito crítico.

É, assim, a escola, um espaço eminentemente político que deveria fomentar a liberdade individual e coletiva, possibilitando as mudanças sociais necessárias para a felicidade humana. Contudo, em nossa época, a escola reproduz os valores, o imaginário e as condições sociais dominantes do sistema cultural. A educação tornou-se, apenas, o meio pela qual o sistema de domínio social está constituído, como se mantêm e como se perpetua.

Portanto, se há um culpado pela má qualidade do ensino, isso se deve as políticas públicas de educação implantadas nos governos neoliberais que tira de si essa responsabilidade e a debita aos brasileiros. Cada família cuide dos seus filhos. Cada pessoa torna-se responsável por sua educação formal.

A chamada era da globalização e o desenvolvimento do Estado Neoliberal, grosso modo, diminuíram o papel do estado na economia e reduziram o investimento e alcance das políticas públicas. A partir de então o trabalhador se viu inserido em um novo mundo, onde teve que enfrentar o desemprego estrutural, o subemprego, o baixo nível das condições de ensino, a exigência de muitas qualificações e a grande concorrência do mercado de trabalho.

Nesse contexto, cada trabalhador depende de si mesmo para se educar, para conhecer as novas tecnologias, atualizar-se e acompanhar as mudanças do mundo globalizado. Hoje, tornou-se difícil manter-se empregado quando o mundo está em constante transformação. A responsabilidade pela formação profissional e cultural não compete mais ao Estado, mas aos próprios indivíduos. As exigências são muitas e demandam um profissional que invista nele mesmo, pois o mundo globalizado espera que os indivíduos se esforcem e adquiram múltiplas competências, sejam multifuncionais, criativos e comprometidos com as exigências do mercado capitalista.

Finaliza-se a reflexão dizendo que as experiências têm demonstrado que os países que conseguiram resolver as desigualdades educacionais também conseguiram resolver as desigualdades sociais e tornaram-se mais democráticos. A educação produz autonomia de pensamento e, em consequência disso, produz a opinião, o livre julgamento e a participação política, que são os fundamentos da democracia. Vamos avançar, Brasil! Um caminho? Mudar a direção política, votar em pessoas preparadas para a transformação desse cenário caótico. É urgente que em 2016 façamos melhores escolhas. O Brasil transformou-se num mau exemplo ao mundo moderno.

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