segunda-feira, 16 de junho de 2014

SOLIDÃO CÓSMICA

Inês Lacerda Araújo


A Terra vista das aeronaves leva a pensar na dimensão infinita, e em um planeta solitário. Nossa perspectiva é terrestre, mas nossos sonhos são estelares.

As metáforas filosóficas e religiosas habituais remetem à caverna humana em contraste com os deuses no Olimpo, no paraíso, no além. Rastejar se opõe a voar, alçar as alturas como bem superior. O que nos leva a sonhar assim, a sondar o universo e pleitear que não estamos sozinhos?

Quem assistiu ao filme Gravidade deve ter sentido que desprender-se da Terra não faz parte de nossa natureza, a volta da personagem principal destaca o solo, o contato com a areia, nossa marca em nosso chão.
Solta no espaço

O retorno feliz
Entretanto, deuses, anjos, seres extraterrestres povoam nosso imaginário. Basta entrar em uma igreja, em um templo, que prêmio eterno ou castigo eterno dão sentido à alma imortal, desde Platão e antes dele, até o cristianismo e outras fés religiosas.

À parte disso, há a hipótese para alguns, cientistas inclusive, de que é impossível não haver vida inteligente em outros planetas e que tais seres possuem artefatos capazes de os trazerem ao nosso planeta! E vão além, certos relatos de abdução, são levados à sério. Curitiba sediou há semanas atrás um encontro em que esses relatos servem para confirmar a existência de ovnis. Um deles é o de uma família abduzida juntamente com o fusca 72! Outra pessoa afirma que após ser abduzida, voltou com um chip implantado em seu dedão do pé direito!

***

Evidentemente a imaginação humana vai longe, fica interessante e inteligente em filmes e na literatura de ficção científica: Jornada nas Estrelas, Júlio Verne, Isaac Asimov, H. G. Wells, Ray Bradbury, entre outros.

Mas nenhum deles ultrapassa o que a condição humana enseja, permite, cria: linguagem, sensações de ver, ouvir, criar veículos, tecnologias, mover-se, transportar-se, guerrear, etc, etc.

É possível que em outra ou outras galáxias planetas semelhantes à Terra tenham evoluído em condições semelhantes às nossas, a ponto de construir naves espaciais, comunicar-se, sequestrar pessoas com suas naves? E o que estariam esperando que ainda não invadiram a Terra? Apenas espreitam para dominar o planeta? Por que isso já não ocorreu?

Quando perguntamos o que querem conosco, essa dúvida por ventura não seria uma questão que só nós levantamos?

Por mais estranho que seja o ET, ele terá corpo, ou será uma espécie de ser gelatinoso, uma bolha, de todo modo representa uma ameaça aos seres humanos.

Ora, essas características são simplesmente nossas, elas não passam de projeções da condição humana. Não podemos sair de nosso corpo, de nossa linguagem, de nossos símbolos, de nossa cultura, enfim, de nosso modo de ser.

Buscar provas e evidências, é também uma necessidade humana. Além disso, que podemos saber?

Nada sem os nossos meios.


INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.

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